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 | Após ser lançada a matéria sobre o atual estado da atriz Norma Bengell (clique aqui para acessar a matéria), o autor da novela Morde & Assopra Walcyr Carrasco postou em seu blog um texto referido-se totalmente à atriz que por muitos foi esquecida. |
A ESTRELA ESQUECIDA
– Quem é Norma Bengell?
O amigo que me fez a pergunta é um executivo de 30 anos, com título universitário e excelente posição profissional. Mas não tinha a menor idéia sobre quem eu falava, quando comentei uma recente reportagem sobre a atriz Norma Bengell, 75 anos.
Tentei explicar:
– Norma Bengell é uma atriz que fez história no cinema nacional. Protagonizou o primeiro nu frontal do país, no filme “Os Cafajestes”.
Foi em 1962. Eu era criança na época, mas ainda lembro do escandalo. Páginas e páginas de jornais e revistas sobre a nudez de Norma Bengell. Manifestações da TFP (Tradição, Família e Propriedade), organização moralista que apoiou o golpe de 1964. A atriz trabalhou também em “O Pagador de Promessas”, único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes. Mas não se sabe mais quem ela é. Alguns ainda a reconhecem pelo personagem Deise Coturno, no humorístico “Toma Lá, Dá Cá” em 2008.
Sem dinheiro, Norma vive em um apartamento no Rio de Janeiro, presa a uma cadeira de rodas. Escorregou num tapete de casa, caiu. Operou a coluna e o cotovelo. Tem dificuldade para mover o braço. Passa os dias sentada com água e cigarro ao alcance da mão. Viúva, sem filhos, é cuidada por Vilma Gomes, sua funcionária há cerca de 20 anos. Não tem dinheiro para pagar as despesas mínimas. Nem mesmo a fiel escudeira.
Pediu uma pensão do governo, por ter sido perseguida durante o periodo da Ditadura Militar. Por outro lado teve seus bens bloqueados pelo Ministério da Cultura e pelo Tribunal de Contas da União, por irregularidades na prestação de contas do filme “O Guarani”, que dirigiu e produziu em 1996. Também não possui meios de sobrevivência. Não tem sequer como manter o plano de saúde. Pior: nem como pagar o aluguel da cadeira de rodas.
Quer voltar a trabalhar. Como, com tantas limitações físicas?
Obviamente, não tenho como defendê-la em relação aos problemas de “O Guarani”. Prefiro separar a atriz tão significativa para o cinema brasileiro da produtora que, segundo as acusações, se aproveitou do financiamento cultural.
E a atriz merece respeito.
Os amigos querem levá-la para o Retiro dos Artistas do Rio de Janeiro. Não é um asilo. Lá os artistas idosos e sem renda são abrigados, recebem moradia, refeições, com uma grande dose de liberdade. É um local digno. Nomes importantes como o falecido Cláudio Correa e Castro passaram por lá. Mas Norma não quer. Está no apartamento em que sempre viveu. Prefere não sair. Sinceramente, se eu fosse aconselhá-la, diria para se desapegar de tudo e ir para o Retiro. Não ficaria tão sozinha (soube que passa dias sem sair ). Encontraria amigos, colegas do passado. Poderia conversar, rir, e esquecer os problemas financeiros.
O mais cruel, para alguém que brilhou como Norma, é ser esquecida. Tenho certeza de que os problemas financeiros e até de saúde são pálidos diante da tristeza de não ser lembrada. Eu sempre me espanto com a velocidade com que as conquistas, aqui no Brasil, se transformam em pó.
Elizabeth Taylor, de idade próxima a Norma Bengell, morreu recentemente. Só se falou dela. Enquanto viva, aparecia no noticiário com frequência. É óbvio que Norma não teve uma carreira da dimensão de Liz Taylor. Mas marcou o cinema nacional. Fez sucessos, numa época em que o filme brasileiro era respeitado no mundo todo. Cantou. Casou-se com o ator italiano Gabrielle Tinti, já falecido. Morou no exterior, após a perseguição dos militares. Principalmente, ousou.
Agora, transformou-se em uma curiosidade. Norma Bengell não merece isso.
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E a outra grande estrela do cinema, da mesma época, Odete Lara? Por onde anda?
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O Retiro dos Artistas no Rio funciona. È muito bom. É sério e competente. Mas já houve uma Casa do Ator aqui em São Paulo, que cumpria a mesma função. Temos inclusive a rua Casa do Ator, em homenagem ao antigo endereço. Que aconteceu com ela?
E o Sindicato que cuida dos atores e técnicos? Não pensa em revitalizar a Casa do Ator?
Link do post no blog do Walcyr - http://vejasp.abril.com.br/blogs/walcyr-carrasco/2011/04/06/a-estrela-esquecida/
